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Dia do Evangélico - 31 de Outubro

No dia 31 de Outubro de 2011 comemora-se o dia da Reforma Protestante, que aconteceu há 494 anos. 

A Reforma Protestante

31 de outubro de 1517, Wittenberg, Alemanha. Martin Luther (1483-1546), monge agostiniano e professor de Teologia na recém fundada Universidade de Wittenberg, fixa na porta da igreja do castelo 95 teses sobre o comércio de indulgências, realizado na Alemanha por Johann Tetzel (1465-1519), pregador dominicano. Tetzel chegara a Saxônia como representante do papa Leão X com permissão para conceder a indulgência, o perdão pelos pecados, os de antes, agora ou depois, dado mediante o pagamento de certa quantia em dinheiro. O dinheiro tinha destino certo: a construção da Basílica de São Pedro, em Roma.

O fato de pregar teses na porta da igreja não era incomum, pelo contrário, dever de teólogos, doutores e acadêmicos. Era o costume na época. Eram colocadas em um lugar onde todos pudessem ler e, se de interesse de algum outro doutor ou acadêmico, fossem debatidas e defendidas pelo proponente.

Outros doutores já vinham debatendo sobre a luxuria e as extravagâncias de Roma, inclusive os superiores de Luther como Johann von Staupitz (1465-1524) e um dos grandes pensadores da época como Erasmus Desiderius de Rotterdam (1465-1536). Mas só Luther teve a coragem de seguir adiante em suas ideias. Para o grande humanista Luther havia ido longe demais, quanto a von Staupitz o discípulo havia superado o mestre.

É importante frisar aqui que na Idade Média a questão da salvação era algo aterrorizante para as pessoas, um Deus julgador e punitivo estava pronto a mandar para o purgatório ou inferno todas as almas pecadoras. É nesse contexto que Luther vem combater a exploração que a Igreja fazia dessa imagem divina. A possibilidade de livrar a si, ou um parente próximo, do purgatório pela eternidade através do dinheiro era muito confortante. Em um momento você podia estar no inferno e com o “tilintar da moeda no cofre” saltar para o céu dos salvos pela “graça divina”.

As 95 teses de 1517 foram o marco inicial do que se denominou de a Reforma Protestante, ou Luterana. Mas Luther não dividiu a Igreja Cristã, ela nunca fora unida, apenas na Europa Central, sob a tiara papal, ela parecia mais coesa. 

As tensões teológicas vividas pela cristandade no século XVI e seguintes não eram, ao contrário do que se possa pensar, algo novo para a igreja do nazareno. A igreja cristã já se digladiava entre católicos romanos, ortodoxos, e outras igrejas menores da Ásia Menor, África e Oriente Médio, desde que Cristo fora pregado na cruz, em Jerusalém, na década de 30 d.C., e seus discípulos se dispersaram pelo mundo conhecido de então pregando a nova religião.

Sabe-se de antemão que o cristianismo nunca foi unido como querem fazer passar algumas igrejas, para que possa haver uma “verdadeira igreja de Cristo”. A formação de suas crenças e dogmas ocorreu em um processo contínuo ao longo do primeiro milênio, sob intensos debates, em um bom número de vezes atendendo interesses pessoais, políticos e locais.

A primeira grande divisão político-administrativa, na Europa, ocorreu no século XI. Após séculos de disputas, que vinham desde os tempos da divisão do Império Romano em Ocidente, com capital em Roma, e Oriente, com capital em Bizâncio (Constantinopla), no século V, a igreja também se separou. Isso ocorreu em 1054, e é conhecido como o Grande Cisma do Oriente. Nesse ano a Igreja de Bizâncio, que era liderada por um Patriarca, título honorífico dado inicialmente aos Bispos das principais comunidades cristãs e ainda hoje usado pela Igreja Católica para algumas cidades como Lisboa e Veneza, desligou-se oficialmente da Igreja Católica Apostólica Romana passando a denominar-se como Igreja Católica Ortodoxa, tendo como primeiro chefe o Patriarca Miguel I Cerulário que retribuíra a excomunhão recebida do papa de Roma com a excomunhão do mesmo. Nem é preciso mencionar que a igreja do oriente, a exemplo dos cristãos do ocidente, se dividiu em várias comunidades religiosas menores como os maronitas, coptas, melquitas, etc., além dos gregos, russos e armênios que são em maior número, cada um com rituais diferentes.

Durante as Cruzadas cristãos romanos e bizantinos lutaram ora do mesmo lado contra os islâmicos, ora entre si. Na quarta Cruzada (1202-1204) o exército cristão (católico) saqueou a capital bizantina (ortodoxa), levando para a Itália enorme quantidade de ouro, relíquias religiosas e escravos.

Passada a época das Cruzadas novamente questões políticas, notadamente marcantes dentro do cristianismo, sacudiram a igreja no século seguinte. Entre 1378 e 1417, período conhecido como o Grande Cisma do Ocidente, a cristandade teve papas, e “antipapas”, em Roma e Pisa, na Itália, e Avignon, na França, simultaneamente.

Um século antes da Reforma Protestante Jan Huss (1369-1415) foi queimado vivo na fogueira por defender e divulgar as ideias de John Wycliff (1320-1384), professor em Oxford. Huss, assim como Wycliff acreditava que o cristianismo se corrompera ao longo dos séculos – mais do que óbvio. Ambos eram doutores em teologia, mas Wycliff teve mais sorte do que Huss, escapando ileso aos ataques que fazia a Igreja, principalmente no período do Cisma do Ocidente.

A Reforma Luterana

É verdade que Luther nunca quis separar a Igreja, assim como também é verdade que sua língua e pena eram afiadíssimas. Logo após a publicação das 95 Teses e sua consequente popularização por toda a Europa tornou-se impossível recuar diante de uma igreja que não queria debater. Sentindo-se seguro pelo apoio dado pelos nobres alemães que lhe garantiram o que nenhum outro reformador tivera antes, auxílio financeiro e do exército se preciso, Luther passou a discutir, escrever e publicar teses e ideias sobre todos os dogmas vigentes, criou hinos até hoje cantados na Igreja Luterana, como Ein feste Burg ist unser Gott, Castelo forte é nosso Deus, de 1528,que em português ficou conhecido como Deus é castelo forte e bom, reformulou também a missa e eliminou da liturgia muitos símbolos e ornamentos.

A base teológica de Luther pode ser resumida, por ele mesmo, da seguinte forma: somente pela Escritura Sagrada, pela graça, pela fé e por Jesus Cristo. Essa estrutura teológica simples combatia a moral vigente, o perdão seria dado pela ação e graça de Deus e não pelo papa e pelo dinheiro. Antes mesmo de pregar as teses em Wittenberg Luther tentou em vão convencer seus superiores do erro que cometia a igreja.

Sentindo-se fortalecido pela ampla aceitação de suas ideias em toda a Europa, escreveu em 1520 três livros que são fundamentos para a formação da nova igreja: À Nobreza Cristã da Nação Alemã, onde abordou questões sobre o clero e a moralidade do mesmo; Do Cativeiro Babilônico da Igreja, onde discutiu sobre o batismo e a eucaristia; e Da Liberdade Cristã, onde escreveu uma reflexão bastante interessante a meu ver: “Um cristão é senhor livre sobre todas as coisas e não está sujeito a ninguém, um cristão é servidor de todas as coisas e sujeito a todos”. Uma interpretação das frases do apóstolo Paulo em carta aos Coríntios (I Cor 9.19) e aos Romanos (Rm 13.8). Em Da Liberdade Cristã Luther, apesar do fundamento básico do luteranismo ser a salvação pela fé, também indica que a obra – o serviço comunitário, a ação social de modo geral, também é dever do cristão e a própria consequência da fé na doutrina de Cristo.

De 1529 são o Catecismo Maior e o Catecismo Menor, onde trabalhou de forma resumida e simples os fundamentos da religião cristã, para que fossem usados na escola e na família.

Um homem de seu tempo também escreveu artigos polêmicos e que até hoje são feridas dentro do luteranismo, como os escritos de 1538, 1543 e 1544, onde atacou ferozmente os judeus por “suas mentiras” e incapacidade de aceitar a doutrina cristã. Nada que a igreja da época também não fizesse. Igualmente polêmico é o texto onde atacou os camponeses em revolta contra a nobreza, entre 1524 e 1525. Referiu-se aos camponeses como uma “turba de cães danados e raivosos”. Em verdade ele havia quebrado o poder e a influência da igreja permitindo que problemas sociais e econômicos viessem à tona. Permaneceu do lado da nobreza a quem pregava que a igreja devia ser subordinada, o que colaborou para a disseminação do luteranismo entre os nobres e permitiu que a Reforma Protestante obtivesse êxito já que dessa forma poder do papa e da Igreja eram enfraquecidos.

Protestantes

Ameaçado de excomunhão em junho de 1520, Luther queimou a bula papal em 10 de dezembro. Talvez essa fosse a data definitiva da Reforma, agora não haveria mais volta, foi excomungado em 3 de janeiro de 1521. Chamado a comparecer a Dieta, assembleia de nobres, em Worms, para se retratar, pronunciou diante do Imperador que “se eu não for convencido por meio do testemunho das Escrituras e por argumentos absolutamente racionais – pois, não acredito no papa e em concílios somente, uma vez que é óbvio que eles erraram mais de uma vez e se contradisseram -, então, em vista das passagens das Sagradas Escrituras que acabei de citar, eu me sinto dominado pela minha consciência e prisioneiro da Palavra de Deus. Por isso mesmo, não posso e não quero renegar nada, pois fazer algo contra a consciência não é seguro nem saudável. Deus me ajude, Amém”. No dia 26 de maio de 1521 Carlos V, Imperado do Sacro Império, assinou o Édito de Worms, banindo Luther e seus seguidores do Império.

Auxiliado por Friedrich III (1463-1525), conhecido como Frederico, o Sábio refugiou-se no castelo de Wartburg, em Eisenach, sob o pseudônimo de Jörg. Católico fervoroso, dono da terceira maior coleção particular de relíquias sagradas do mundo cristão, e príncipe eleitor do Império pela Saxônia, Frederico salvou Luther da morte e a Reforma da ruína. Em Wartburg “Jörg” traduziu a Bíblia para o alemão, uma das suas maiores contribuições a nação alemã e tornou popular, entre os protestantes, a tradução da Bíblia em latim para o vernáculo, possibilitando acesso fácil aos livros sagrados.

Em 19 de abril de 1529, na Dieta de Speyer, Carlos V decretou que o luteranismo seria aceito nos estados alemães que já haviam aderido a Reforma, o restante permaneceria católico. Como o Sacro Império era uma colcha de retalhos, formado por pequenos estados, havia muito mais interesse político do que religioso em jogo. Os príncipes alemães protestaram que já haviam aderido a Reforma, de onde surgiu a expressão “protestantes”.

Em 25 de junho de 1530 é apresentado ao Imperado, em Augsburg, o texto de Philipp Melanchthon (1497-1560) que ficou conhecido como a Confissão de Augsburg, que delineava a normas a serem seguidos pelos luteranos.

As brigas atingiram outro campo então, a armada. Massacres de um lado e de outro. Novamente o cristianismo agia em nome de Deus, mas com ações humanas. E isso não ficou relegado ao passado, infelizmente.

Em 1555, o Sacro Império Romano Germânico (católico) e a Liga de Schmalkalden (protestante) estabeleceram a Paz de Augsburg e o “Cujus regio, ejus religio” (de acordo com a sua região, sua religião) estabelecendo então a divisão entre os cristãos alemães. Assim, muito do que você acredita hoje também está ligado a um passado político. Se seus ancestrais (alemães e os de países não latinos) eram de uma região de católicos, você consequentemente tornar-se-ia católico, não havia outra opção. A chance de mudar ocorria quando o conde, príncipe ou rei aderia a Reforma, então você dormiria católico e acordaria luterano ou vice-versa. A liberdade de pensamento e de se acreditar naquilo que se quer e pensa só veio muito tempo depois da Reforma. Regiões onde havia os dois credos sofreram muito com guerras e combates frequentes. A velha disputa pela razão em nome de Deus.

Luther 

Martin Luther faleceu em 18 de fevereiro de 1546 na mesma Eisleben onde nascera 63 anos antes, em 10 de novembro de 1483. Casado, após o inicio da Reforma, em 1525, com a ex-freira Katharina von Bora, foi pai de seis filhos.

Se fizemos hoje críticas ao imediatismo, ao fanatismo e principalmente ao comércio dentro do cristianismo, devemos em parte as ideias e ações de Luther. Passados quase 500 anos do início de sua reforma, estamos hoje nos vendo às voltas com as mesmas inquietações. A igreja cristã exige dinheiro para a construção de imensos “templos da fé”, têm em seu meio clérigos depravados, e promete a salvação eterna à gente de pouca instrução, incapaz de compreender que alguns dogmas foram criados pela igreja e não por Deus ou Cristo. Seria bom, guardadas as proporções e se ajustando o tempo e espaço, refletir sobre o que aquele monge agostiniano pregou há quase quinhentos anos.

Fonte: http://www.rodrigotrespach.com/2011/10/25/a-reforma-protestante/

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